

AVESSO
Hoje vou acordar na hora errada. Mostrarei para o despertador que sou eu quem manda em minha vida. Vou colocar a meia do pé direito no pé esquerdo. Vou me atrasar para um compromisso inadiável, chamar minha mãe de pai e almoçar na hora do café da manhã.
Que sorte será quando eu pegar o ônibus que me levará para um lugar distante daquele que preciso ir! Todos os dias pego o de número 43, mas hoje vou no 65. Darei bom dia pela primeira vez ao motorista que não conheço. Vou cumprimentá-lo com a mão esquerda. Vou ouvir aquela música que não suporto e dançarei como se fosse minha favorita, e, se duvidar, ainda chamo alguém pra dançar comigo. Vou beijar a mulher mais feia que encontrar – lembrando que não existe mulher feia, feio é o jeito de olhar. Talvez ela seja a pessoa que eu mais farei feliz. Ou até mesmo a única...
Vou descer na estação em que ninguém descerá. Sentarei em uma mesa e colocarei minha mochila numa cadeira enquanto contemplo um lugar em que tudo que eu vejo é pela primeira vez. Ah! Novas pessoas, novos lugares... Espero que alguém saiba para onde vamos. Mas eu? Prefiro continuar sem saber. Vai dar tudo “errado” e tenho certeza que o melhor dia da minha vida será o pior. Meu plano é não planejar. Afinal, decorar o texto é bom, mas o melhor da vida é improvisar.
Jean Carlo Barusso
Arapongas, PR





Dezembro 2016
[DA CARTA DE SENTIMENTO QUALQUER OU SAUDADES]
* Quando a pálpebra atravessa as mãos/ para dizer os nomes, esqueço a distância/ que vai da noite ao pensamento. (ggrr, in as palavras mais simples. pp.59)
Sinto com as mãos, distante
a mesma forma [efémera] que há
o segredo entre a pedra mesmo tão lento,
Sinto devagar a matéria [leve e simples] onde tarda
no corpo ainda quente em voz lentamente viva
ou demorada na garganta do tempo como
da saudade, a nós
e sempre numa janela de fogo
iluminada, a luz de uma existência
madura
ou amarga na paciência e
na leveza da vénia que subsiste na memória da mão,
a mim
como uma pedra ainda madura a mesma quente tipo o tempo
que quase inexistente entre agente
E agora mais do que nunca
coexisto na lágrima desta carta tão lentamente
e no rosto do pensamento voajante.
Lino Mukurruza
Lichinga - Moçambique
DIAMANTE AZUL
O coração apaixonado tem fome na espera
E sede na chegada;
Sente tristeza na sala e alegria na varanda
Sente tristeza no vento e alegria na chuva.
Quando nos lábios calam as palavras
Nos pensamentos desaparecerem as coerências.
Quando nos toques sedosos brotam calafrios
O sentimento derruba, esparrama.
É hora de abanar as labaredas da lareira
De desabotoar risos nos lábios
Franzir a testa em alegria
E fechar seus olhos úmidos.
Hora de andar tocado de sentimento
De sair a beber vento e comer sol.
Deitar sono em colo carinhoso
Deitar ombro aos abraços ao dia.
Quando o afeto fica forte como rochedo à beira-mar
É hora de levar o ramalhete
É hora de levar o corpo ralado ao almejado encontro
É hora de andar lonjuras, ficar pertinho;
Ir ao encontro do diamante azul, da vida valiosa.
Marcos Delgado Gontijo
João Monlevade, MG
Do livro: "Um dia para ter meu assovio"
DIVINO GUIA
Um menino guia e uma
estrela guia guiaram
três reis magos guiados
pela esperança de guiar
a humanidade para um
novo tempo guiado pela paz...
Todo ano, o Natal nos guia
em nossas escolhas guiadas
pelo nosso guia interior
mas, quase sempre, não
ouvimos esse guia e
o novo tempo de paz não nos guia...
Se por ventura, algum dia,
ouvirmos o guia maior,
talvez possamos trazer esse
guia, sempre, para nos guiar
em nossos corações guiados
por comunhão natalina...
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)
São Gonçalo, RJ
Do livro "Cantos ao Natal" - Editora Literacidade

O NATAL DE MARIA
É manhã de Natal.
Maria cansada.
Maria vazia.
Cansada da vida,
vida de agonia.
É manhã de Natal.
Maria, sozinha.
Maria caminha.
Sozinha no mundo,
no mundo caminha.
É manhã de Natal.
Tá esperando o que, Maria?
Chegar o carnaval!?
Levanta a cabeça, Maria!
É manhã. É Natal!
Ali jaz a Maria, no terminal.
É seu funeral.
Mas... funeral pra que, se é Natal!?
Lá se foi a Maria,
cansada e vazia.
Que pena, Maria!
Acabou teu Natal...
Cláudia Farias
São Gonçalo, RJ
BAILARINA
Suaveluz a bailarina voa sutil
Estrelúcida pulsa a dançarina
Em seu movimento ilumina-se
Mulher-diva de alma cristalina
Balança em ritmo saltitante
Nas ondas do palco trafega
A plateia su-suspira atônita
Ante a deusa que circunavega
Sereia-cisne, passos de gazela
Inspira-nos com a sua sinfonia
Encanta com o olhar luminoso
Germinamor e floresce poesia...
Gustavo Dourado
Brasília, DF
