
Versos de Versos [Agosto]
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Poesias são fragmentos da alma dos que as escrevem.
Aceite o convite para conhecer alguns.
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PATOGENIA
O céu de gelo e mármore desbotado que possui
todo mormaço, torna o coração com seus ponteiros
de nervos encrespados, um órgão ártico.
Mesmo o utópico hibridismo das criaturas automatizadas
não mais suscita nele a inveja e o asco misturados;
e nem mais as esplêndidas searas adornadas de crianças
inutilmente lindas o fazem sorrir matemático e pasteurizado.
Se conseguisse obter as ferramentas necessárias
para esculpir ou mesmo dinamitar este invólucro petrificado,
seria um poeta mais luminoso e menos Víbora, Diabo;
porém ainda iria rastejante de encontro a uma purpurina qualquer
e permaneceria confundindo com Auroras Boreais
os sentimentalismos gelados, que, vira e volta,
insinuando-se através das difusas emanações da cor
e das gradações dos relevos do horizonte, restabelecem
o antigo domínio de idealismo e febre, querem.
Thalles Machado
Paraty - RJ
JOGO DE ILUSÃO
É pura sedução
É frisson
É pensar ter na mão a carta certa
É vitória cega
Intenção
É tesão, só imaginação
Destino traçado
É lençol molhado
Frustração
É perigo iminente
Tentação
É preliminar de uma decisão
É aceitar e calar
Loucura numa noite escura ensolarada
É paixão ardente, queima sem cicatrizar
Amor que rima com dor, fazendo a gente pecar
E não vale tentar persuadir
É um jogo e como todo jogo, há regras:
Só sai, só perde quem se iludir!
Ione Perez
Curitiba - PR
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TEMPO
Longo é o tempo para quem derrama pranto
Curto é o tempo para quem celebra
Quem tem sede de viver com o tempo se alegra
Quem sente a felicidade pelo tempo tem encanto
Devagar passa o tempo para quem espera
Doce é o tempo para um abraço fraterno
O tempo tortura a alma de quem tem ódio
Mas para quem ama, o tempo sempre será eterno
Alberto Manoel da Costa Martins
São Gonçalo - RJ
EU PRECISO DE VOCÊ
Eu preciso de você
Cotidianamente na minha vida
Preciso do seu sorriso antes mesmo de acordar
Preciso conversar contigo apenas por conversar
Com você quero curtir bons momentos
Preciso das cores que te agradam para aprender a gostar também
E quero adornar meu dia com as paisagens que te atraem
Porque, somente porque,
Quero viver com você todos os momentos
Comemorar sua felicidade, suas conquistas e também te confortar na dor
Porque a nossa amizade precisa mais de corpo presente
Lembrar de você eu lembro todos os dias
Mas quero te abraçar e confessar que você me faz falta
Meu coração guarda o seu nome
Mas os meus olhos querem te ver
Lucia Pacheco
São Gonçalo - RJ
PERFUME DE FLOR DE ABELHA
A porta abriu e deixou
Entrar a luz calmamente...
Abraçou-me, a porta, tal qual luzes
De lua e sol nascentes,
Daqueles clarões que vejo
Fotografados em teu sorriso aquiescente...
Agora a porta entrou
E me trouxe uma manhã luzidia
Invadindo meu olhar,
Minha sala de estar,
Meu quarto e meus jardins
E fez, em mim, nascer o dia
Com uma cor ligeiramente vermelha
Uma flor passarinheira,
Aconchego de esteira e travesseira
Que tem teu nome de mel de abelha
Paulo Caldas
Maceió - AL
À DERIVA
À deriva corria a seiva matutina em variações de matizes do mar onde teus olhos repousam,
Dos risos que percorrem minha pele como rios sem foz e sem nascentes,
Vago demente pertinaz, entre veredas vicinais sem bastar-me no entanto
Satisfaz-me saber que habitas minhas vidas de agora, e as minhas vidas de depois
Afloras aos tempos das auroras transcendidas a mim, a luz furando as orbitas dos olhos,
as lágrimas de banhar as profundezas da dor,
inventar uma maneira de se satisfazer em mim,
Mas as saudades persistem, jorram-me em mares e oceanos,
em águas de afogar a sede da alma que busca
Veste-me do negro de sutis filigranas de caminhar nos beirais das sombras
No banhar das almas que capturam da luz pura às intuições rejeitadas,
No latir dos cães, nos rastejar das vidas mortas,
na carcaça que choram os lobos que a devoram
Não me doou em lágrimas às ossadas expostas, aos visgos espectrais
A lança atinge em cheio o peito do mísero animal,
o findar da eternidade então chega ao largo
Mas a vida é púrpura bordadas na pele nova,
o pó de esmeraldas a preenche os pulmões sufocados,
À ideia de coisas cravejadas deslumbra o derramar do verbo,
Nos tempos de glorias a honra molda em gesso e lama uma flor de pétalas vivas,
Por meus caminhos recolho barros para manipular os ossos, as fibras de trançar os músculos, os pirilampos de dar viços aos olhos, a eternitude do amor,
Flor rara na boca dos amantes, nos vãos úmidos da paixão a acarinhar
minhas tolas percepções de bem e do mal,
Tudo é vida onde deito o meu ser, onde Deus se diz gente,
Todos os dias eu preciso aprender a viver
E a saudade recita poemas para aprender a morrer...
Charles Burck
Rio de Janeiro - RJ
MY WAY
Um dia você acorda e olha pra trás
E diz: eu não era nada.
E vê toda vida que fez do seu jeito
E pergunta: terá valido a pena?
Você acha que venceu na vida
Mas sabe: o que restou de você?
Talvez muito pouco ou quase nada
Daquilo: uma criança pura.
Um dia você cai em si e teme
O resultado: o que fizeram de você
A luta a dor, as amarguras e
Seqüelas: terá sido uma vitória?
Dentro do seu coração os sonhos
E as escuridões: são os poemas
Que você escreve porque tem medo
De se matar: morrer depois de tudo?
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Um dia você não quer olhar pra trás/ E nem pra você: foge para a poesia.
(Na escrita há um tempo irreal/ Uma ilhota íntima: você em você!)
Silas Correia Leite
Itararé - SP
SAUDADES
Lhe dedico esses versos mudos
Que escrevi
Desprezo?
Resignação?
Meu olhar já não é mais tenso, vívido
Você se foi
Deixou-me só
Mergulhada em silêncio
Levou consigo o brilho do meu olhar
Que agora é vazio, pálido
Reencontrarei o caminho ou de amor hei de morrer?
O corpo vive
A alma sobrevive
Controvérsia
Perdida na nevoa
Buscando seu vulto
Uma última chance
De dizer adeus
Saudar os momentos
Tênues
Marcantes
Gravados em minha índole
Perpétuos
Tenho que aprender a conviver com a ausência, tua
Lhe procuro nas flores
Lhe dedico uma estrela
É um anjo
Que zela meu sono
Estou caminhando
Aconchegando-me
Na fina teia redefinida
Denominada, saudades.
Michelle Zanin
Araraquara - SP
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