

Outubro 2016
TERNURA
Toques, sensações, arrepios nos seios.
Meu coração agitado se liberta de todo receio.
Em teus olhos me perco, me rendo a você, incendeio.
Meus olhos nos teus, e ternura pura invade o recinto.
Com palavras não ditas reina nosso silêncio bendito.
Como é difícil expressar tudo aquilo que sinto!
És meu prazer, meu deleite, meu bem querer.
Minha alegria, fantasia realizada, meu amanhecer.
(Cláudia Farias - São Gonçalo, RJ)
MICROPOEMAS
1. MENTIRAS NO JANTAR
Vá lavar as mãos
E aguce o paladar,
Pois essa noite
Eu servirei
Mentiras no jantar.
2. ELEVA-MOR
Antes de entrar de cabeça no amor,
Verifique se a pessoa
Encontra-se
No mesmo amar.
(Evandro Aranha - Sorocaba, SP)
SOMBRAS E SOBRAS
As sobras na sombra
A sombra nas sobras
Na sombra as sobras do só
Nas sobras a sombra do ser
A sombra engole as sobras
As sobras diluem-se na sombra
De um vulto de partículas.
Ninguém cobiça verdadeiramente
As sobras
Talvez um prato faminto
De sombra
As sobras somem na sombra
A sombra vive nas sobras
De dentro de nós.
(Marianne de Souza Stoklasa - Santa Luzia - MG)
AS ÁGUAS VERDE-ESMERALDA DO MAR
E a morena perdeu o seu amor
para as águas verdes do mar.
Castigo divino, dos deuses,
da filha de Olokun, de Yemanjá.
As águas verde-esmeralda
que trouxeram o seu amor,
por um destino infeliz,
de seus braços arrancou.
Marejam de seus tristes olhos
gotas de sal e mar.
E sua pena vem como ondas
no seu peito a arrebentar.
Tsunamis de dores, imenso vazio,
em seus longos dias, sol já não há,
pois perdeu seu grande amor
para as águas verdes do mar.
E na praia se escutam os ais
de seu pranto a soluçar.
Não mais verá os verdes olhos do amado...
verde-esmeralda, da cor das águas do mar.
(Magali Guimarães - Brasília, DF)





INTROSPECÇÃO
Preciso ficar a sós comigo,
tocar meus seios, olhar o meu umbigo,
sentir o pulsar do coração…
Atenta, no silêncio escutar a mestria dos órgãos,
e nas veias, o sangue a alimentar
o ritmo da vida…
Preciso medir meu campo de visão,
percepcionar a mente, o raciocínio, a sensação,
a transcendência dum orgasmo a me tomar…
Mirar no gesto, a tela que pinta a minha mão
quando em labor ou em acto de paixão,
ou quando, simplesmente, posta a orar…
Sentir o peso de meus pés a interligar-me
à terra-mãe, ao pó, princípio e fim.
Em tudo o que vibra e canta ao meu ouvido,
em tudo o que estremece o meu sentido,
entendo o poder da Criação!
Ânima, sopro divino, vibração e harmonia,
o clarim de Deus, soando em mim em sincronia!
Na introspecção, percebo o milagre e a beleza
do ser que se irmana ao pulsar da Natureza,
e que a segue, a par, nas estações que se sucedem…
Os primaveris e verdes anos,
a rubra e sensual pujança do verão,
nos ocres outonais… a rendição;
e na estação final… o branco, a invernia
da planta envelhecida, estéril de cor, que em letargia
prepara a gravidez de nova flor.
Preciso olhar o espelho sem gesto que esmoreça,
sem sensação de perda ou retrocesso,
e lúcida, serena, apelar ao siso,
encontrar o meu suporte,
vislumbrando dessa imagem o reverso…
Do outro lado do espelho há vida, há recomeço,
em prosa e verso, em choro e riso…
Há outro despertar pra um mundo ainda imerso
em novas cores, novos rumos, novos céus;
e em mim… de novo há-de soar o clarim de Deus!
Soprando ao meu ouvido um Universo
onde não há morte, onde nada é perdido,
tudo é mutação,
e vida renovada em transição!
(Carmo Vasconcelos - Lisboa, Portugal)
