
Quando entro em uma livraria, sinto-me em casa. Sou dessas. Não tenho pressa em passar em revista as prateleiras, verificar capas, folhear livros e porque não, cheirar páginas novas, intocáveis. Em uma dessas visitas, um livro chamou minha atenção. Era totalmente diferente de todos os que conhecia até então. Quando o toquei, senti que ele deveria ser meu. Comprei. Quando desatei o laço que o fechava, como um presente, ele desdobrou-se na minha frente; fiquei maravilhada! Virei criança! "Migrar" foi escrito por José Manuel Mateo e ilustrado por Javier Martínez. A versão em português foi traduzida por Rafaella Lemos. O autor e o ilustrador são mexicanos; o primeiro, escritor nascido em 1970, é ganhador de diversos prêmios. O segundo é ilustrador, nascido em 1963. Além de também ter ganho vários prêmios, vive e trabalha em sua cidade natal, Xalitla.
Javier é um dos artistas mais importantes da ilustração em papel casca, que ele mesmo produz. De uma forma inusitada, a saga de crianças que acompanham suas famílias, deixando para trás suas vilas e cidades no México para arriscarem a vida ao tentar entrar em território americano, nos é mostrada de forma primorosa. O medo, a fome, a insegurança e outros tantos sentimentos, tomam conta do coração da criança que tem que migrar, sair do seu país.
Mesmo com problemas, a vida era boa, havia sol e melancias. Do outro lado, a realidade é bem diferente. Discriminação e preconceito substituem a alegria de correr, brincar, аs quais toda criança tem direito. A cada dia, incertezas. Sonhos, sonhos, sonhos...que podem nunca tornarem-se realidade. Ilusões. Marginalização. Desamparo.
Mergulhe nessa narrativa. Antes, correr era apenas uma forma de brincar. Correr agora é vital para sobreviver. O livro, impresso em Papel Amate (*) parece uma tela pintada, que se desdobra diante do leitor. "Migrar" foi publicado pela Editora Pallas, no ano de 2011, mas isso não o envelhece. Ao contrário, seu teor é mais atual do que nunca, principalmente em um momento onde muitos imigrantes americanos estão com medo da deportação.
"Guardar a memória é fazer história"
(Elena Poniatowska - jornalista e autora franco-mexicana)
O livro foi vencedor do Prêmio New Horizons, concedido pela Feira de Bolona, tendo em vista sua grande inovação editorial. Recomendo veementemente não só a compra deste livro para uso pessoal, mas como um belíssimo presente de Natal, que se aproxima.
(*) Papel Amate é um tipo de papel que era fabricado na Mesopotâmia é um tipo de papel que era fabricado na Mesoamérica pré-colombiana. Era produzido cozendo a parte interna da casca de algumas espécies de árvores (particularmente do género Ficus) como Ficus cotinifolia e Ficus padifolia. Este tipo de papel é produzido por Javier para execução de seus trabalhos literários.

LIVRO DO MÊS
Novembro 2016
