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André Massolini

Formado em Filosofia, André Massolini também cursou Teologia na PUC-Campinas. É professor efetivo no Estado de SP, dando aula de Filosofia e Sociologia. Apresenta o programa de rádio Ponto de Vista, desde 2009, na Rádio Cultura, na cidade de Dois Córregos, interior de SP. Em abril de 2013 recebeu o primeiro e-mail pedindo aconselhamento, por ter gravado um vídeo falando sobre como lidar com términos em relacionamentos. Fez um vídeo resposta e desde então, os e-mails nunca mais pararam de chegar. O Canal Ponto de Vista, no YouTube, já é referência no assunto e a cada dia, ganha mais e mais inscritos. Vamos conhecer um pouco mais sobre o André?

1. De onde surgiu a ideia de criar um canal no YouTube falando sobre questões emocionais, falta de amor próprio, autoestima baixa e relacionamentos?
Um dia estava numa chácara, comemorando o aniversário de minha sobrinha, e ouvi duas adolescentes falando da tristeza pelo término de relacionamento. Na época (2012) tinha uma coluna no jornal de minha cidade e, ao chegar em casa, resolvi escrever sobre “Como lidar com término de relacionamento”. Tal artigo totalizou 6 páginas, então jamais seria viável para uma coluna no jornal (risos). Bati o olho em cima de minha escrivaninha e vi uma daquelas máquinas fotográficas que também filmava e pensei: “Acho que vou gravar o que escrevi e postar no YouTube”. E assim o fiz. Tudo de forma muito amadora e sem experiência alguma, é claro. O vídeo ficou no ar até 2013. E tinha pouquíssimas visualizações. Em abril de 2013 recebi um e-mail de um rapaz do Rio de Janeiro, pedindo um conselho (pois havia visto o vídeo). Resolvi gravar a resposta para ele em vídeo. Como o arquivo de vídeo tem uma extensão grande não daria para anexar no e-mail. Então, subi o vídeo de resposta para o YouTube e compartilhei o link com ele. Isso aconteceu no dia 15 de abril de 2013. E foi assim que nasceu o Canal Ponto de Vista, no YouTube. Hoje, tem mais de 2.500 e-mails aguardando para serem lidos e transformados em vídeo. O que dá, aproximadamente, quase três anos de fila de espera (posto um vídeo por dia).
2. Você também tem um programa de rádio. Poderia nos falar um pouco sobre ele, quando e como começou?
Diferentemente do Canal no YouTube que começou sem planejamento, o programa Ponto de Vista, na Rádio Cultura Regional de Dois Córregos, foi planejado. Era o ano de 2009 e eu percebi que as pessoas (principalmente numa cidade pequena como Dois Córregos) ouvem muito o rádio. Contudo, estava na hora de fazer uma inversão: estava na hora do rádio ouvi-las! Queria ser o apresentador que receberia cartas com as histórias de vida, os conflitos, as angústias etc, dos ouvintes. Fiz a proposta ao gerente da rádio e ele gostou da ideia. No dia 02 de março de 2009 ia ao ar o primeiro programa Ponto de Vista pelas ondas da Rádio Cultura. E foi um sucesso! E estou no ar até hoje. São 8 anos de rádio, totalizando mais de 1.900 programas.
3. De que forma a filosofia te ajuda a encontrar argumentos que encorajem e ajudem uma pessoa que está deprimida porque o relacionamento acabou e não encontra mais esperança para continuar?
A Filosofia contribui fazendo com que eu consiga desenvolver uma reflexão a partir da história que me foi relatada no e-mail. Como diz Demerval Saviani, a reflexão filosófica precisa ser radical, rigorosa e de conjunto. A Filosofia, portanto, me auxilia a pensar com rigor, a buscar adentrar na raiz ou questão chave do problema relatado (ainda que não esteja relatado de maneira explícita, mas enxergar nas entrelinhas) e ter uma visão de conjunto, uma visão ampla – olhar todos os ângulos possíveis. Estes aspectos, grosso modo, fazem com que eu consiga (ou ao menos tente) indicar um ponto de luz para pessoas que se encontram em situações nas quais consideram estar num “túnel sem saída”. Vale lembrar que não sou eu que resolvo o problema de ninguém e o mérito não é meu. Apenas faço as reflexões! A própria pessoa deve contextualizar a reflexão feita à sua situação e perceber como deve agir. Portanto, uma frase de Pitágoras elucidaria o que quero dizer: “Ajuda teu semelhante a levantar a carga, mas não a carregues”. Posso, com minhas reflexões, ajudar as pessoas a levantarem a carga, mas tal carga é dela e, sendo assim, é ela que tem que arregaçar as mangas e carregar, ou seja, agir!
4. Seu livro chama-se “Dor de amor tem jeito”. Quando foi que você descobriu isso?
O livro é um desdobramento daquele artigo inicial (que gerou o primeiro vídeo do Canal), assim como é fruto de muitos vídeos postados no Canal. Veja bem, às vezes, há pessoas que me criticam porque não entenderam a proposta. Nunca disse e jamais direi que dor de amor não existe ou, ainda, que a pessoa que ler meu livro estará imune às dores do amor! Meu livro leva à reflexão e, portanto, não é um manual de “feitiçaria” do tipo: “livre-se para sempre da dor de amor” (risos). Meu livro simplesmente mostra que devemos encarar e enfrentar as dores de amor, justamente porque elas são reais e estão aí. Este enfrentamento e consequente posicionamento diante da realidade faz com que consigamos assumir as rédeas de nossa vida e, assim, assumimos a autoria de nossa história. É por isso que, ao agir desta forma, a dor de amor (que é real e faz parte da vida de qualquer ser humano) tem jeito!
5. A quantidade de e-mails que você recebe é imensa. São casos e mais casos descritos, sempre preservando a identidade das pessoas. Como você vê, de uma forma geral, os relacionamentos, hoje em dia? O “ficar” desvalorizou o compromisso ou as pessoas estão mesmo abrindo mão de seus princípios e valores tão somente para agradar o outro e não ficarem sozinhas?
Não acredito que o “ficar” tenha desvalorizado o compromisso entre as pessoas. A sociedade muda, as pessoas mudam, os costumes mudam! Não podemos comparar a sociedade atual com a sociedade de 50 anos atrás. Aliás, talvez a sociedade de antes tivesse muito menos compromisso que a atual, tendo em vista que os casamentos eram arranjados e muitos, portanto, eram apenas uma união de famílias e um mero cumprir de acordos feitos pelos pais. A sociedade mudou e, hoje, o “ficar” é apenas um estágio pré-namoro. Então, podemos pensar que quando alguém assume um namoro não é por falta de opção (tendo em vista as múltiplas opções que se tem, inclusive com aplicativos que parece que você está folheando um catálogo de pretendentes), mas sim por opção! Mas, apesar de não haver mais os acordos familiares, ainda existe uma “mão invisível” que aprisiona as pessoas e as faz se sentirem sozinhas, abandonadas e carentes caso não estejam se relacionando amorosamente com alguém. Nossa sociedade vive pressionando e cobrando as pessoas com perguntas: “Você está namorando? Não? Como assim? Não acredito que não namora! Por quê?”. Quem não dispõe de senso crítico entra facilmente nessa massa e cede a esta pressão de estar com alguém a qualquer custo, pois parece que a solteirice é como se fosse uma doença que precisa ser combatida. Com isso, os “arranjos” da sociedade atual são outros; relacionamentos são iniciados apenas para preencher status em rede social e apenas para se adequar ao que os outros querem e, assim, sentir-se socialmente aceito ou “socialmente normal” (como se estar solteiro designasse uma anormalidade). E é aí que entra o perigo, pois o outro tornar-se-á uma necessidade e não uma opção. Com isso, é muito fácil entendermos porque algumas pessoas se anulam diante das outras e criam uma dependência emocional (mesmo sendo um relacionamento abusivo ou doentio).
6. Alguma vez você passou por uma situação pessoal que te deixou mal e você pensou em desistir de tudo?
Já pensei em desistir do Canal sim. Mas não por causa de uma crise pessoal ou de uma dor de amor pela qual tenha passado. Aliás, como qualquer ser humano, também passo por frustrações, decepções e conflitos, sem sombra de dúvida. Porém, quando começo a gravar vídeos quando, porventura, esteja numa situação dessas, acaba sendo extremamente terapêutico para mim mesmo. É por isso que digo que todos, sem exceção, podemos aprender com os tombos alheios. Podemos criar uma “corrente do bem” e nos fortalecermos a partir das experiências alheias. Tudo depende da maneira como olhamos para uma situação, ou, do ponto de vista! Alguns olharão para uma flor murcha e dirão: “Afff, aquela flor estáseca”; outros, porém, olharão para a mesma flor e exclamarão: “Veja, aquela flor está dando semente”!
7. Você é um formador de opinião. Milhares de pessoas visualizam seus vídeos e começam a mudar o padrão de pensamento onde estavam enraizadas e conseguem mudar de vida, passando de um estado desesperador para um estado de graça, esperança e força. Como você se sente em relação à isso?
Sinto-me feliz. Mas esta felicidade não é porque eu me sinta o “salvador dos corações” ou algo do tipo. É uma felicidade por ter sido apenas o estímulo que fez com que a própria pessoa conseguisse fazer uma avaliação de sua vida, do seu contexto, da sua história, do que quer e do que não quer para a própria vida e, assim, empreendeu as mudanças que julgava necessária para que atingisse o bem-estar. Aliás, bem-estar nada mais é do que “estar bem”! Portanto, ela conseguiu ter ações para que começasse a estar bem consigo mesma. O mérito é dela; mas me sinto feliz por, talvez, ter sido o estímulo.
8. Em todo lugar encontramos os tão falados “haters”. Você encontra problemas assim, tipo, recebe e-mails ofensivos ou com ameaças ao seu trabalho. Se sim, como você lida com isso?
Já recebi ameaças sim. Mas foram poucas que dá até para contar, ou seja, foram duas. Se percebo que a ameaça é algo muito contundente e não apenas fruto de um momento de fúria, raiva ou descontentamento impulsivo, então procuro os meios legais para fazer a denúncia. Caso contrário, apenas ignoro. Isso em relação a ameaças. Já em relação aos haters e seus comentários ofensivos (que também são poucos), apenas clico no ícone da “lixeira” e é pra lá que mando os comentários deles. São pessoas carregadas de ódio. Portanto, ela veio querer despejar o lixo dela em mim. Se eu aceitasse, então quem ficaria com o lixo seria eu. Simplesmente e, literalmente, envio para a lixeira e sigo meu caminho! Mas, para chegar neste nível, levei um tempo. Nada melhor que a maturidade!
9. A objetividade é uma presença certa em todos os seus vídeos-resposta. Você diz o que precisa ser dito, sem rodeios. Com sua sinceridade, você tem alcançado, cada vez mais, seguidores nas redes sociais. Como você se sente, sabendo que é querido por tanta gente que sequer te conhece pessoalmente?
Sinto-me imensamente agraciado por isso. Tenho muita gratidão por tantos comentários carinhosos e tantas demonstrações de afeto em relação a mim. Infelizmente, por causa da dinâmica do meu Canal, nem sempre consigo demonstrar isso, o que é uma pena. Permita-me explicar: imagine que uma pessoa acompanhe um Canal, no YouTube, e deixe um recado super carinhoso ao apresentador do Canal (que faz vídeos de comédia, por exemplo). Aí, o apresentador responde. Ora, a pessoa fica super feliz por ter seu comentário respondido por seu ídolo. Aí ela chega no meu Canal e também curte meu trabalho. Vai nos comentários e deixa um comentário super bonitinho, agradecendo-me e tecendo elogios. Só que eu não respondo. Logo, ela começa com os pré-julgamentos: “Estrelinha, metido, convencido, tá se achando, não se importa com seus seguidores”, entre muitos outros adjetivos! Porém, esta pessoa não sabe como é a dinâmica do meu Canal e sobre o real motivo que me levou a optar por não responder comentários. Meu Canal é um canal que trabalha com autoajuda, com conselhos voltados para a área amorosa. Ou seja, a maioria das pessoas que chega até mim é porque está passando por um problema, um sofrimento, uma dor no peito devido a um problema amoroso. E quer solucioná-lo! Então, é mais ou menos assim: primeiro ela deixa o comentário dizendo que gostou do meu trabalho, faz os elogios e tal. Aí, caso eu responda agradecendo, em seguida vem um novo comentário com todo o relato da situação pela qual ela está passando! Digo isso porque são quatro anos que estou com o Canal e não porque estou me orientando pelo “achismo”. É assim que acontece! Ora, como eu teria uma “sanidade mental” se vivesse para responder os conflitos amorosos do mundo? Como eu continuaria sendo professor? Como eu teria minha vida? É isso que as pessoas não entendem! Dedico uma parte da minha vida para responder aos e-mails que vão ao ar no YouTube, mas não sou uma máquina de aconselhamento! Eu também preciso trabalhar e viver minha vida como qualquer outra pessoa! Resumindo: é por isso que, por muitas vezes, sou incompreendido e me julgam como se eu não fosse grato a tanta demonstração de carinho. Contudo, não é verdade.
10. Já sabemos que dor de amor tem jeito... mas quando dói, deixa de ser amor? Filosoficamente, o amor surge de várias formas. Platão via de um jeito, Sócrates de outro... afinal de contas, o que é o amor, André? Por que o amor próprio é o mais importante?
A ideia do amor é algo muito subjetiva. Há pessoas que não gostam de serem cuidadas, pois classificam isso como “pegajoso”; outras, porém, consideram esta mesma atitude como sendo a verdadeira concretização do amor. Portanto, não me aventuraria e nem teria a pretensão de querer criar uma definição de amor. O que posso falar é sobre a ideia que eu, André, tenho sobre amor. Para mim, ele se traduz em respeito, sinceridade, companheirismo, segurança, entre outras atitudes que vem somar conosco. Para mim, sentimentos que nos diminuem ou fazem com que nos anulemos e percamos o equilíbrio emocional não pode ser chamado de amor. E o amor próprio é importante justamente porque não deixa que permitamos sermos tratados de qualquer forma; não permite que nos sujeitemos a alguém por acreditarmos que não viveremos sem aquela pessoa – mesmo ela agindo com desconsideração e total descaso para conosco.
11. Quais são seus projetos futuros? Pode falar deles?
Em julho ou agosto deste ano pretendo finalizar meu segundo livro, que vai abordar a questão do amor próprio.
12. Qual mensagem você gostaria de deixar para os leitores do Portal Sinestesia?
Não tenha medo de fazer um mergulho dentro de você mesmo; aprenda a fazer as pazes com seu passado ao invés de se boicotar por conta dos erros cometidos no ontem. Fazer as pazes com o ontem, no hoje, é perceber que todos estamos sujeitos aos erros e que o mais importante é saber tirar as lições dos erros cometidos. Afinal de contas, se temos consciência que erramos no ontem é porque, no hoje, estamos mudados! Se você não tivesse mudado, então não teria nem a consciência das falhas cometidas. Aliás, foi o seu ontem que permitiu que você se tornasse a pessoa que é hoje. Invista em você, no hoje, tendo como referencial o ontem e, assim, estruture melhor o seu amanhã!
Site: http://www.andremassolini.com.br
Canal Ponto de Vista: https://www.youtube.com/channel/UCkfuJhm5oeOAt3CsknofqMg
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A Equipe Sinestesia gostaria de agradecer profundamente ao André Massolini, por sua disponibilidade e boa vontade em nos conceder esta entrevista. Nossa admiração e respeito pelo seu trabalho só aumentou. Sua vida tem sido canal de benção para milhares de pessoas que, através do seu livro ou seus vídeos, conseguem enxergar uma luz no fim do túnel, quando estão atravessando momentos muito difíceis, na área de relacionamentos amorosos. Muito mais sucesso para você, André! Vitórias e conquistas em seus projetos e muita saúde e paz! E como você sempre se despede de nós em seu canal, receba de todos nós... um forte abraço!
[31/05/2017] - Entrevista concedida à Cláudia Farias - Editora do Portal Sinestesia