1. Como foi que o humor entrou na sua vida?
O humor faz parte dos seres humanos, ele não precisa entrar, é só deixar ele sair. O teatro, com certeza, faz isso com maior fluides e eu faço teatro desde criança, então acredito que no meu caso, o humor sai para fora desde criança.
2. Quem sobe ao palco um dia se acostuma ou sempre há nervosismo e ansiedade na hora de improvisar?
Se acostuma a sentir nervosismo e ansiedade, isso não quer dizer que não sinta, sempre sente. Quando você faz muito um mesmo espetáculo, talvez o que acontece é que você consegue lidar melhor com isso, mas quando tem uma estreia, o corpo reage como se fosse a primeira vez. No teatro de improvisação você nunca sabe o que vai fazer, mas se você está bem preparado, saberá bem o que o que está fazendo.
3. Fale um pouco pra gente sobre o "Portátil", realizado em Portugal e que estará voltando ao RJ em agosto.
Portátil é um espetáculo de improvisação teatral de Porta dos Fundos, e eu faço parte do elenco. O formato é único no Brasil e conta a história improvisada de alguém da plateia que voluntariamente, nos conta sua vida e logo nós quatro (eu, Gregório Duvivier, Luis Lobiando e João Vicente) interpretamos essa história com um estilo próprio, fazendo que cada apresentação seja diferente. Em Portugal, contamos com a presença de César Mourão, um excelente ator-improvisador que foi nosso convidado nas duas últimas temporadas. Aqui no Brasil também atuaram conosco grandes atores como Marcius Melhem e Karina Hamil, em algumas das apresentações no Rio de Janeiro.
4. A peça "Me Mato el 24" já está em cartaz há vários anos, em Medellín. É uma peça que foi montada por você e está fazendo muito sucesso. Como você se inspira para escrever?
Me Mato el 24 foi uma peça que eu escrevi depois de terminar meu mestrado em dramaturgia e direção na Colômbia, no mesmo ano em que vim morar no Brasil. Ela conta a história de duas irmãs idosas que pretendem se matar em 24 de dezembro, já cansadas da vida. Eu adoro o humor negro e as minhas peças têm sempre um "tinte" dessa cor; essa peça em particular tem sido um sucesso no meu país, graças à incrível montagem da Cia Teatriados, onde dois atores (homens) interpretam magistralmente as duas irmãs. Esse ano, escrevi para eles a segunda parte dessa história, titulada Me Voy el 31. Além dessa, existem outras peças minhas na Colômbia e algumas em processo de montagem na Argentina e em Estados Unidos. Eu me inspiro em imagens; gosto de levar ao palco universos muito próximos da vida real, porém o mais longe possível do que estamos acostumados a ver, tirando importância das coisas que normalmente são importantes e dando importância nas coisas que normalmente não são importantes.
5. Você deixou a Colômbia e veio morar no Brasil. Se arrependeu?
Mal faria eu em me arrepender de estar morando aqui. Eu saí de lá num bom momento da minha carreira, deixei um grupo que fundei com quatro amigos dezessete anos atrás, eles ainda continuam lá fazendo sucesso; vim para cá porque amo Brasil, queria ficar um ano e acabei ficando cinco, e não sei quantos mais faltam. Estou aqui porque gosto do que faço, das pessoas, porque tenho a possibilidade de fazer o que sei fazer e compartilhar isso com os brasileiros.
6. É fácil fazer o brasileiro rir?
Mais do que fácil, é necessário, especialmente pelo momento que o país está passando; quando temos mais dificuldades é quando mais necessitamos rir. Ter a sensibilidade para chorar também nos faz ter sensibilidade para rir.
7. Existe diferença entre estar no palco ou atrás dele, dirigindo peças?
Existe sim, o fato de estar em convívio com a plateia faz a diferença. Eu já atuei muito mais do que dirigi e acho que ainda quero ser muito mais ator do que diretor; apesar de assessorar espetáculos, dar aulas é algo que amo fazer, e ter dirigido alguns espetáculos, a atuação continua sendo o que mais me apaixona.
8. Sua parceria com Os Barbixas é incrível. Poderia nos falar um pouco do seu trabalho com eles?
Eu sou o treinador do elenco para o espetáculo Improvável. A minha função é fazer com que, tanto os Barbixas quanto os convidados, estejam sempre prontos para novos jogos e desafios, assim como para fazer os jogos clássicos como se nunca tivessem sido feitos. É um trabalho em equipe; eu coordeno os treinamentos, mas entre todos criamos e determinamos o que o espetáculo precisa para ser cada vez melhor. Cada quarta feira nos encontramos durante cinco horas para realizar esse trabalho; eles já faziam isso antes de eu chegar aqui cinco anos atrás, por isso que o espetáculo sempre está vivo e ativo, se renovando a cada dia. Barbixas é uma companhia muito disciplinada e organizada, merecem sempre o sucesso que tem.
9. Qual a sua expectativa em relação os cursos de Improvisação para Iniciados e Iniciantes que acontecerão em poucos dias, aqui no RJ?
Decidi que esse ano daria dois cursos diferentes, um para iniciados, ou seja para pessoas que já têm experiência no palco (atores, improvisadores, etc.), e outro para iniciantes, que não precisam nenhum tipo de experiência. Isto porque tenho dado alguns cursos no Rio e a demanda de estudantes é grande, então quero compartilhar meu trabalho com aqueles que ainda não fizeram oficina comigo. Acredito que as ferramentas da técnica de improvisação são muito úteis para a vida dentro e fora do palco. Esses cursos acontecerão sábados (iniciados) e domingos (iniciantes) no Teatro dos Quatro e no Teatro das Artes no Shopping da Gávea.
(info: cursogustavomiranda@gmail.com) [nota da redação: as inscrições se encerraram; curso lotado]
10. Qual mensagem você gostaria de passar aos leitores do Portal Cultural Sinestesia?
Vai ao teatro, esse dia que você acorda com vontade de fazer algo diferente, abre o Google ou pega o guia cultural do jornal e vai assistir uma peça que não precise ser de um amigo de um amigo, vai ver que vale a pena.
Twitter - https://twitter.com/gustavomirandaa
https://www.facebook.com/gustavomirandabrasil
Contato: gustavomirandaangel@gmail.com

Gustavo Miranda
Começando o mês de agosto e pra quem acha que é o mês do desgosto, anunciamos que não, não é! É mês de rir e rir muito! Apresentamos aos nossos leitores uma entrevista super legal com Gustavo Miranda, ator e mestre do improviso, colombiano, que atua desde os oito anos de idade. Ator fundador na empresa Acción Impro, ator e treinador na empresa Barbixas e ator no espetáculo "Portátil" na empresa Porta dos Fundos, mora em São Paulo. Para quem é fã, é só ler para curti-lo ainda mais. Quem não conhecia, agora tem tudo às mãos para acompanhar o trabalho maravilhoso do ator.
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[02/08/2017]
Crédito da foto: Mauricio Flórez
Crédito da foto: Mauricio Flórez