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A poesia para crianças
Mesmo sem nos darmos conta, as crianças desde cedo, estão em contato com elementos poéticos, seja através das letras de cantigas de roda, seja através de parlendas e músicas. Assim, é possível perceber que, de algum modo elementos da linguagem poética estão também presentes no mundo infantil, a partir desses gêneros. Inicialmente, é a partir desses textos que as crianças têm o acesso às rimas, à musicalidade das palavras, aos versos, sendo os primeiros contatos da criança com a língua realizados oralmente.
Segundo Aristóteles, a função primeira do poeta seria recriar a realidade, construindo-a e reconstruindo-a a partir de outro olhar. Para Octávio Paz, a poesia seria um método de libertação interior, e, por isso, a poesia é revolucionária por natureza. Definido sob diversos olhares, o poema é composto em versos, podendo ser marcado por estruturas rítmicas e visuais, dotados ou não de musicalidade e sonoridade. Mas quando direcionada para crianças, a poesia deve ser lúdica e atrativa.
Geralmente a poesia produzida para crianças deve apresentar alguns recursos que chamam a atenção do público infantil como: - onomatopéias (figura de linguagem que indica a reprodução de sons ou ruídos naturais o tic-tac do relógio o miau do gato etc.), a personificação (quando seres inanimados ganham vida: o gato que fala, a pulga que ri, o pato que chora), as rimas e musicalidade, as repetições, e os elementos lúdicos.
Ao contrário de se considerar uma perspectiva moralizante, o poema direcionado para a criança deve trazer essa brincadeira com as palavras, com os sons, com as coisas de que se fala. Além disso, é importante também que a poesia direcionada para os pequenos leitores traga a ideia da fantasia, em que a realidade e a imaginação se confundem, cativando os leitores mirins, transportando-os do mundo real para o mundo da imaginação, criado poeticamente.
Em relação ao aspecto formal, os poemas direcionados às crianças devem ter as mesmas estruturas de um poema para adultos: devem conter versos, estrofes, e uma linguagem metafórica. No entanto, para se adequar ao público ao qual se dirige deve-se evitar a utilização de uma linguagem pouco clara, permitindo, com isso a interação do leitor mirim com o texto, de modo que a criança seja transportada para a realidade do mundo construído pela poesia, interagindo com ele.
Para terminar, coloco a seguir um poema destinado ao público infantil de autoria de Sylvia Orthof, em que algumas das características citadas anteriormente aparecem:
A poesia é uma pulga,
coça, coça, me chateia,
entrou por dentro da meia,
saiu por fora da orelha,
faz zumbido de abelha,
mexe, mexe, não se cansa,
nas palavras se balança,
fala, fala, não se cala
a poesia é uma pulga,
de pular não tem receio,
adora pular na escola...
só na hora do recreio!
(ORTHOF, 1992, p. 3)
[16/08/2017] Palmira Heine
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Palmira Heine é doutora em Linguística pela Universidade Federal da Bahia, é atualmente professora de Linguística pela Universidade Estadual de Feira de Santana.