
Chronica
Como todos
Já brinquei de roda, amarelinha, e quis muito ter um patins, para pouco depois descobrir que eu prefiro pique esconde. Já contei segredos de infância para desconhecidos, e virei amiga do homem da verdura.
Tentei esconder machucado e fui descoberta pelo grito de quem não aguentava dor. E já senti dores tão grandes que pensei que fosse morrer, mas renasci. Já briguei com todas as melhores amigas que tive, e descobri que nem todas eram tão melhores quanto eu pensava.
Já tomei banho de chuva sem querer e também outros por querer. Experimentei ameixa, jabuticaba, jaca, açaí, manga verde com sal e descobri que amoras serão sempre as melhores. Já fui preconceituosa sem perceber, mas percebi em tempo de me transformar numa imbecil.
Corri atrás do ônibus, vesti minha melhor roupa para ir em busca de um emprego que me dispensou antes que me vissem. Já perdi noites de sono por amores não correspondidos, e sinto que ainda não recuperei este tempo perdido. E por falar, já perdi tempo com caras bem babacas, e já me apaixonei por verdadeiros idiotas.
Caí tantas vezes que perdi a conta, mas ainda estou de pé. Descobri com o tempo que família realmente é tudo, e que se nada dê certo o beijo de uma mãe pode curar até isso.
Já me joguei no chão para que alguém não caísse, e engoli o choro para que o mesmo alguém não visse. Então fui mãe... E fiz coisas imagináveis depois disso, como passar 5 noites sem dormir e convulsionar de estresse emocional.
Aprendi que dar mamar dói demais, e que sorriso de filho(a) cura todas as dores. Acordei e acordo todas as noites para ver se eles estão respirando, para só então dormir tranquila.
Eu entendi que cocô não é tão nojento assim, que roupa com cheiro de vômito é super normal e que cabelo a gente penteia quando pode. Aprendi nestes 33 anos, que muitos mentiram e continuam mentindo, mas agora sou esperta o bastante para não acreditar em tudo.
Fui julgada e condenada, por vezes, injustamente, por outras merecidamente. Já ouvi xingamentos que eu nem sabia do que se tratava, e percebi que calar-se é ouro. Nossa... Aprendi tanta coisa nesta vida!
Como que escrever acalma tanto, que estas linhas pouparam um terrível estouro emocional. E assim vou, aprendendo e vivendo, errando e acertando como você, como ele, como todos.
Viviane Santyago
[24/08/2017]