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Chronica - Mari Tozzini [convidada]

O AMOR NOS TEMPOS DE APLICATIVOS
 

“O Amor nos tempos de cólera” de Gabriel Garcia Marques fala de um amor sem barreiras que persiste e espera 53 anos. Já o amor em tempos de aplicativos é efêmero e plural. Há quem diga que nada mudou, que selecionar um pretendente na tela do celular é como trocar olhares e sorrisos com alguém no bar…. eu, honestamente, vejo muita diferença.

Tenho uma amiga que está noiva e feliz organizando seu casamento para o próximo ano. Onde se conheceram? No Tinder! Ela vinha de algumas experiências mal sucedidas da “vida real” e encontrou nele um porto seguro e um companheiro. Adoro o fato que ela conta a verdade e  não inventa nenhuma história fantástica para descrever como se encontraram. Eu lembro da época que saia com ela para almoçar e ficava dando “pitaco” em quem ela devia curtir ou não….

Na contramão tenho amigas se aventurando em mil encontros por semana com caras que conheceram no Tinder, Kick off, Happn e sei lá quais outros possam existir. Por enquanto elas só me relataram histórias engraçadas ou tristes, sem nenhum envolvimento mais profundo.

Mas a história da vez vem de uma amiga que, incentivada por outras amigas, resolveu dar uma chance aos aplicativos, por que, nunca se sabe né? Começou com preguiça das conversas, as tais perguntas: o que você faz?onde você mora? Questões essas que relembram  as  trocas de mensagens da época em que perguntávamos: de onde tecla? Torcendo para a internet discada não cair (risadas!).

Depois de muito conversar com vários pretendentes, resolveu  sair num primeiro encontro. Seguiu todas as dicas das amigas: lugar público, não pedir para o cara buscar em casa para não mostrar onde mora, ir sozinha e de preferência voltar sozinha, pesquisar antes sobre o moço na internet, entre outros conselhos.

Chegou no bar e achou tudo aquilo estranho, lembro dela me mandando mensagem no caminho e perguntando: e se eu errar de pessoa?  Como começo a conversa? Enfim conseguiu achar a mesa certa e iniciaram um papo que durou das 19h30 às 22h30. Se ela curtiu? Não! Ele tinha opinião formada sobre tudo e alguns comentários bem preconceituosos. Claramente não havia qualquer match ali. Tentou dar indícios que estava cansada e queria ir embora, mas ele sempre pedia mais um cerveja e ela não conseguia sair dali….

Na volta para casa ele insistiu em caminhar com ela e tentou roubar um beijo, sem sucesso, já que não se sentiu na obrigação de fazer nada que não quisesse. Ele a deixou na esquina de casa, e ela, assim que chegou, resolveu deletar  todos os aplicativos do seu celular.

Minha amiga segue a vida normalmente, torcendo para um dia esbarrar no parque, numa festa ou até no trabalho com alguém que valha a pena construir uma história. Ele provavelmente percebeu a falta de interesse dela e não a procurou mais. É, amar em tempos de cólera, mesmo com um espera de 53 anos, parece mais fácil que desbravar a selva dos aplicativos…..


MARI TOZZINI

[texto publicado com autorização da autora]

Site: https://1amigamecontou.wordpress.com/2015/08/12/o-amor-nos-tempos-de-aplicativos

Instagram: @matozzini

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