
Chronica
Foto: Fernando Azevedo
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~ Viviane Santyago ~
Goiabeira verde
Quando vim de lá, trouxe o cheiro.
Veio impregnado na roupa, nos cabelos, nos sonhos.
Vim de lá tão pequena que os sonhos nem cabiam dentro de mim; então deixei que saltassem pra fora.
Eles rodopiaram soltos, livres, e a cada dia se tornavam maiores, até que um dia decidiram ir embora…
Fiquei um tempo a vagar na procura, oculta e solitária. Nada. Com o passar do tempo, decidi voltar: recarregar a bagagem de sonhos, porque só eles mesmo pairam por lá. E assim me fiz moleque perneta, me escondi no bagageiro do ônibus e fiz verdade o apelido que Dona Tina me deu quando ainda era pequena: “Essa menina é Maria Homi!”.
Que seja menina ou que seja ”homi”, tô voltando para minha terra, rever Ritinha, rever Papai e até meu amor perdido, esquecido, em troca de nada, que vim buscar.
Quero meu pé de goiabeira verde, cheio de bicho. Para mim era casa, era esconderijo.
Só de pensar já me sinto lá: voltando no tempo e rezando para o vento nunca mais me tirar de lá.
[03/06/2017]